Seu nome era Vilma




O que nos é mais precioso? A família? Os Amigos? A vida? Devemos abandonar tudo por um sonho? Conheçam Vilma.

Por Jack Sawyer
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jack.sawyer@itelefonica.com.br


Seu nome era Vilma. E Vilma era alegre e descontraída. Tinha muitos amigos e estava sempre passeando com eles na praia, no shopping e nas baladas de fim de semana.
Era amável com os colegas de serviço e todos gostavam dela.
Mas de uns tempos pra cá, Vilma vinha tendo uns sonhos estranhos. Sempre o mesmo.
Em seu sonho, um rapaz muito belo vinha lhe visitar a noite. Entrava pela janela mesmo ela estando fechada. Ficava parado ao lado de sua cama sem nada dizer. Vilma o via, mas também não dizia nada. Queria falar, queria tocá-lo, saber que ele era, mas ficava hipnotizada por aquele rosto redondo com olhos azuis tristes.
Ia trabalhar triste e com raiva ao mesmo tempo por ter que acordar cedo. Já não era tão amável e alegre. Ficava sempre distraída e não prestava atenção ao que outros diziam. Seus colegas de serviço começaram a se afastar dela. Ela achou até bom, pois assim ninguém a convidaria para sair depois do expediente. E tudo o que ela queria depois do trabalho era voltar pra casa e voltar a dormir, para poder reencontrar seu amigo misterioso que só a visitava em sonhos. Já não se alimentava direito e sua magreza e palidez preocupavam seus amigos que, sem sucesso faziam de tudo para tirá-la de casa. Por falta de atenção e constantes atrasos, havia sido demitida do emprego. Passou a viver reclusa em casa. Se recusava a receber qualquer pessoa, amigos ou parentes.
Em uma noite, no meio de seu sonho, ele estava lá novamente. Parecia mais triste que antes.
Na manhã seguinte, foi a um mercadinho que ficava próximo à sua casa. Era o mais longe que ela se afastava.
No retorno, ela o viu. Estava como se apresentava em seus sonhos. De terno. Bem alinhado. O mesmo rosto redondo e olhos bem azuis, mas sem o ar de tristeza. Vilma olhou para o chão e viu seu reflexo em uma poça d´água e ficou envergonhada.
Tinha perdido seu viço e sua beleza. Parecia ter envelhecido uns vinte anos nestas ultimas semanas. Tinha o rosto murcho e todo encovado. Profundas olheiras escuras marcavam seus olhos, antes tão alegres.
Ela levantou a cabeça e olhou-o novamente. Ele estava sorrindo agora e ela também, como se há muito tempo esperasse esse momento. Ele se aproximou dela sem se mover, como se flutuasse. Vilma tomou coragem e falou com ele.
- Você está aqui para me levar não é? – Vilma perguntou, mesmo sabendo a resposta.
Ele não respondeu. Apenas balançou levemente a cabeça afirmando.
- Você é um anjo? – Vilma fez nova pergunta, apenas para confirmar sua suspeita.
Ele confirmou com um aceno de cabeça positivamente e ao mesmo tempo ia abrindo suas asas.
Vilma deu um passo à frente querendo tocá-las, mas ele se afastava.
- E quando vai ser?
Com uma voz forte que não condizia com seu aspecto fino, ele respondeu para Vilma.
- Agora.
Vilma estava tão fascinada com a imponência do anjo que não ouviu a buzina do ônibus que vinha em sua direção. Sem perceber, Vilma havia caminhado até o meio da rua. O ônibus tentou frear e desviar dela, mas sem sucesso. Ela bateu na lateral do ônibus e na queda, foi atropelada pelas rodas traseiras tendo morte instantânea.

****

Vilma abre os olhos e vê aquele monte de gente em volta dela. Ela se levanta tirando o pó da roupa.
- Calma gente, não aconteceu nada. Está tudo bem.
Quando percebe que ninguém dá atenção a ela. Continuam olhando para o chão com caras tristes. Ela tenta se apoiar na lateral do ônibus e se desequilibra. Sua mão havia atravessado o ônibus. Ela olha novamente para trás e vê a si mesma, ali, deitada no chão toda ensangüentada. Uma massa disforme no lugar da cabeça e os membros virados em posições antinaturais.
Afastado da multidão, estava o anjo. Com as asas abertas agitando-as no ar, e um sorriso no rosto.
Vilma tentou afastar a multidão, mas não era necessário, pois ela passava através deles.
Como antes, quanto mais tentava se aproximar do anjo, mais ele se afastava.
- Espere, espere. – gritava em vão.

****
Vilma acorda assustada e ofegante. Parecia que havia acabado de correr a maratona. Lembra-se do sonho e corre até o espelho. Observa-se detalhadamente. Não havia nada. Suas bochechas ainda estavam gordinhas e rosadas. Não havia olheiras. Os olhos estavam meio inchados por ter dormido demais.
Fora só um sonho
No celular, em cima do criado mudo tinha uma mensagem. Era de suas amigas.

“Vi, não esqueça da festa de aniversário da Linda hoje à noite. Aquele gatinho dos olhos azuis vai estar lá. Venha bem produzida. Beijos.”

- É claro que irei. – murmurou Vilma.

Fim

Comentários

Unknown disse…
Saudações!
Amigo Jack Sawyer,
Que conto Fantástico!
A riqueza de detalhes você domina com mestria, e, o mais surpreendente é o final desta fantástica história!
Parabéns meu amigo, por tão belo Conto!
Abraços,
LISON.
Ótimo conto!
Ele realmente expressa como os sonhos são indecifráveis!
Adorei!
Raquel Tato

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