Josefine - Parte II

Josefine – parte II

Setembro de 1812

Josefine foi quem me transformou. Na época eu pertencia ao exército do general Napoleão. Fui ferido em combate, na invasão à Rússia, em 1812. Quando estava no campo de batalha, quase nas mãos da senhora da foice, ela apareceu. Um rosto branco como cera. Trajava um longo vestido negro e cabelos vermelhos. Se não fosse pela vestimenta, eu diria que era um anjo. Estava se alimentando. Para os noturnos, o campo de batalha sempre foi um ótimo lugar para se alimentar em abundancia. As pessoas já estavam morrendo mesmo. Não seria tirar nenhuma vida, e além do mais, ninguém suspeitaria. Não haveria marcas de dentes. Qualquer médico diria que morreram devido aos ferimentos e por hemorragia, explicando a ausência de sangue.

Ao se aproximar de mim, já farta de se alimentar, com a sua sede saciada, eu a segurei pela barra do vestido, suplicando sua ajuda. Por um momento ela parou e ficou me observando. Eu já estava em estado de choque e começando a tremer e a perder os sentidos. Ela se aproximou de meu rosto e sussurrou em meu ouvido.

Meu jovem da cor de ébano. Hoje é a tua noite de sorte. Não trago nada de valor material comigo, mas dar-te-ei algo muito mais valioso. Dar-te-ei a vida eterna para que o passe comigo, a me servir. Tu aceitas?

No desespero, sentindo a vida se esvair de mim, e sem entender nada do que ela disse confirmei com um aceno de cabeça.

Ela pegou a baioneta do meu fuzil e fez um pequeno corte em seu pulso esquerdo. Daquele corte em seu pulso, saía um líquido vermelho e bem escuro. Ela levou o pulso até minha boca e deixou que o líquido viscoso escorresse pela minha garganta. Tinha um gosto de ferrugem. Achei que melhoraria ingerindo aquele líquido, mas parecia que estava piorando. Comecei a ficar ofegante, meu coração começou a ficar acelerado e depois foi parando.

Até que minha respiração foi sumindo. O sobe e desce dos meus pulmões foram diminuindo até o último suspiro.

Fiquei ali parado. Imóvel. Morto. Pareceu uma eternidade. Quando voltei, parecia que eu estava voltando de um mergulho profundo. Buscando desesperadamente o ar, que eu não precisaria mais. Agora era tudo diferente. A noite estava mais viva, os cantos escuros estavam mais claros. E os sons? Muitos zumbidos pareciam que seu estava envolto por milhares de insetos, mas não havia nada em volta, pelo menos não na minha pele. Mas o que mais me impressionou foram os odores e o cheiro de sangue, ainda fresco. Ao fundo, Moscou ardia em chamas. Eu podia ouvir as botas dos soldados russos, o exercito liderado pelo czar Alexandre l. Estavam recuando, possivelmente já estavam na Sibéria, mas não importava mais. A guerra havia acabado para mim.

Ela me levou até os moribundos no campo de batalha, para que eu pudesse me alimentar. Aqueles que não tinha morrido, o sangue ainda pulsava a cada batida do coração.

Ela me ensinou tudo. Como me alimentar sem levantar suspeitas. Ser uma garça entre as garças e, principalmente, evitar os lupinos. Eles eram imprevisíveis.

Os lupinos, devido à sua natureza bestial, já haviam criado muitos inimigos humanos, e nas noites de lua cheia, os caçadores se organizavam, criando armadilhas para dar cabo das feras malditas.

Certa noite de caçada dos humanos, um dos lupinos ficou encurralado em um beco. Estava próximo demais da nossa área de descanso e poderia por em risco nosso esconderijo diurno. Josefine resolveu intervir, tentando ajudar o lobisomem a fugir, mas ele, no ápice de sua bestialidade, interpretou o ato como um ataque e, pegando Josefine de surpresa, ele a degolou com suas poderosas garras e engoliu sua cabeça.

Tentei impedir, mas meus companheiros não permitiram, dizendo que nada mais poderia ser feito por ela.

Os caçadores ao observarem a cena, uma jovem sendo brutalmente atacada e devorada, apertaram o cerco ainda mais. Quanto mais a fera se irritava, maior e mais forte ele ficava, até que ele conseguiu fugir.

Prometi a mim mesmo que não descansaria até encontrar esse lupino e exterminar ele e toda a sua raça.

Continua...

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