Buraco Negro

Buraco negro


- Sérgio! Tire dez cópias deste relatório. E é para ontem.
“Tudo é para ontem” - pensou Sérgio - “pegaram o formulário agora e já querem para ontem.”
A grande copiadora ficava no terceiro andar. Ele agora estava no térreo. Passou pela máquina de café pegou um copo da bebida quente e seguiu para as escadas. Seria péssima ideia ir pelo elevador que vivia sempre lotado, algum engomadinho poderia esbarrar nele, derrubar o café e ainda culpá-lo por isso. Além do mais, poderia bebericar seu café sossegadamente.
Chegando no terceiro andar, sentou em uma cadeira e descansou um pouco. Depois foi até a maquina de xerox que ficava no fundo de uma sala ampla.
O local foi escolhido pelo espaço e porque a máquina emitia ruídos muito altos.
Sérgio colocou o copo de café vazio em cima da copiadora, posicionou os formulários na traseira da máquina e apertou o botão verde de iniciar.
Nada aconteceu.
Apertou mais uma vez, e de novo, e de novo, e nada.
“Mais essa agora. Só falta esta máquina ter quebrado justo comigo. Ou já estava quebrada e sobrou para mim.” - pensou Sérgio, já desolado.
Tentou mais uma vez o botão iniciar. Desta vez ela começou a emitir seus cliques e zumbidos característicos de que estava funcionando.
Sérgio passou as costas da mão sobre a testa, não para enxugar o suor pois a sala era refrigerada, mas em sinal de alivio.
Após os zumbidos, uma única folha saiu da máquina. Parecia que a copiadora estava vazando, pois a única folha que saiu tinha uma mancha enorme e preta de forma circular ocupando quase toda a pagina. Tirou a folha e colocou em cima da máquina, ao lado do copo e apertou o botão verde novamente. Logo as copias começaram a sair. Tomou o resto de café já frio e colocou o copo em cima da folha.
A copiadora cuspiu a ultima folha. Tinha que deixar a sala como a encontrou. Pegou os originais e prendeu-os com um clipe de papel, juntou todas as copias e quando foi pegar o copo para jogar no lixo ele havia desaparecido. Procurou pelo chão e nada
Olhou com cuidado e espantado para a fotocópia negra, aproximando-se aos poucos. Primeiro tocou com cuidado a superfície negra e lisa. Não havia nada lá, seus dedos tocaram o vazio. Recolheu a mão rapidamente e tocou novamente, agora com mais segurança, enfiando a mão toda através do desenho. Aquilo era irreal, impossível e inimaginável. Só havia visto isso nos antigos desenhos do Gato Félix, quando ele tirava de tudo daquela bolsa mágica xadrez, inclusive um buraco falso. Na verdade era isso mesmo que tinha a sua frente. Um buraco falso.
Aprofundou mais a mão e depois o braço. Teoricamente estava colocando a mão dentro da copiadora. Balançando a mão lá dentro, encontrou seu copo. Estava intacto.
Precisava fazer mais um teste. Ainda não cria no que via. Jogou o copo no lixo, pegou as cópias e a folha com o círculo negro e saiu para o corredor. Lá tinha uma máquina de refrigerantes. Correu até o final do corredor e não viu ninguém descendo ou subindo pelas escadas. Observou o elevador e ele estava parado no térreo. Voltou para a máquina de refrigerantes, colocou as cópias no chão e com uma mão segurou a folha na frente da máquina e a outra mão colocou no desenho. Sua mão entrou no desenho, entrando na máquina de refrigerantes até tocar em algo gelado. Puxou com cuidado e no instante seguinte, tinha uma lata de refrigerante geladinha na mão.
Com um sorriso de orelha a orelha de felicidade pensou:
“Isto realmente funciona, finalmente algo de bom aconteceu na minha vida”
Enrolou seu buraco negro portátil e colocou na mochila. Esperou ansiosamente o final do seu expediente. Já era noite quando saiu da empresa. Sua primeira parada seria uma joalheria. Tinha uma grande no centro comercial. Àquela hora as ruas estavam desertas e iluminadas pelas vitrines das lojas. Tirou a folha da mochila e encostou na vitrine na direção do relógio rolex, pegou o relógio e num anel de ouro também.
Estava feliz com o que conseguira hoje, seguiu para casa. Antes passou por uma loja de artigos esportivos e viu um tênis incrível na vitrine e não resistiu, pegou ele também.
No dia seguinte foi trabalhar com seus tênis novos, relógio e anel. Os outros pareciam ter percebido os acessórios berrantes, mas ninguém comentou nada.
E assim continuou a sua vida, sem limites. Tudo que queria ele possuía, desde que estivesse ao alcance de suas mãos.
Começou a aparecer com telefone celular novo, óculos de sol de marca, aparelho de som portátil e mochila descolada. Até que planejou o grande golpe. O cofre da empresa.
Aguardou pacientemente um fim de semana prolongado para executar o golpe.
Chegando a sexta-feira tão esperada, se escondeu no terceiro andar, a sala da copiadora, e esperou que todos saíssem. Como era sexta-feira, todos iam embora cedo.
Assim que todas as luzes se apagaram saiu de seu esconderijo. Destrancou a porta e seguiu pelo corredor até o oitavo andar. A saída da escada do oitavo andar estava trancada, mas isso não era problema. Colocou o buraco negro na porta, enfiou a mão e destrancou-a por dentro. Foi fazendo isso de porta em porta até chegar a sala do cofre.
Com uma fita adesiva prendeu a folha na porta do cofre e começou a retirar maços e mais maços de dinheiro, alguns ele já ia colocando na bolsa, outros ele ia empilhando ao lado do cofre. Havia muito mais, mas não conseguia pegar, sua mão não alcançava. Então tentou algo diferente, tentou passar o corpo pelo buraco falso. Surpreendentemente o buraco alargou aumentando seu tamanho original, o que possibilitou uma passagem para dentro do cofre. Conforme ele ia atravessando pelo buraco, o papel ia balançando movimentando a fita adesiva para os lados. O contato com o metal do cofre não ajudava a aderência, então a pagina caiu e escorregou para baixo do cofre, eliminando a sua rota de fuga, deixando-o sozinho na escuridão.
Sérgio começou a gritar, a pedir por socorro, mas seus gritos soaram abafados quase inaudíveis.
Era para ser o crime perfeito. Sem arrombamentos, sem janelas quebradas e sem marcas. Sérgio só será descoberto na quarta-feira de cinzas. Infelizmente, para ele, seu ar dura até domingo.
Para os demais fica a pergunta. Como uma pessoa jovem entra em um cofre, tira o dinheiro para fora e se tranca lá dentro sem ao menos acionar o alarme?
A resposta, jamais saberão.

Jack Sawyer.
Baseado no curta "The Black Hole"

Comentários

Fab III disse…
Ótimo conto, aceita parceria com meu blog?
Fab III disse…
Olá, já coloquei seu banner nos parceiros, por favor amigo aguardo o meu banner publicado no seu tb.
Erik Santana disse…
Olá, meu nome é Erik Santana, sou escritor e, recentemente, publiquei minha primeira obra, chamada Filhos da Noite. Estou entrando em contato para saber se há possibilidade do livro ser divulgado aqui no blog. Como podemos dar andamento a essa parceria? Desde já fico grato pela atenção. Pode me contatar por aqui: http://filhosdanoite.wordpress.com/
Anônimo disse…
Camarada, se o seu conto está registrado e isso foi feito antes do lançamento do curta metragem "Black Hole" http://www.youtube.com/watch?v=P5_Msrdg3Hk exija seus direitos, senão, faça o favor de citar a fonte de onde você tirou sua história. Se for APENAS mera coincidência, desconsidere esse comentário.
Ao camarada anonimo, agradeço a dica e o lembrete. Realmente foi uma falha não ter citado a fonte. Já corrigi no blog.

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