Crueldade


Crueldade
- Vai, vai “mermão”. Anda logo com isso. Passa a grana logo, meu.
- Ca calma...
- Que calma, véio. Anda logo. Tá demorando muito.
Assim começava um assalto a um posto de gasolina de beira de estrada. O meliante era baixo, por volta de 1,60 m. Aparentava ter no máximo 25 anos. Barba rala e o rosto sujo, juntamente com uma touca preta, dificultava a identificação.
O mais impressionante eram os olhos. Eram pequenos e estavam vermelhos. Transmitiam uma maldade, um sadismo difícil de descrever.
Ficou de tocaia ate o momento que o caixa passou para recolher o numerário dos frentistas. Era inicio de feriado prolongado e o posto teve movimento o dia todo.
Estava acabando o turno do caixa e ele, foi recolher o dinheiro para conferência e a guarda do movimento do dia.
O individuo tinha as roupas sujas, a calça larga e suja de barro, estava amarrada com um barbante. Entrou no escritório do posto sem ninguém perceber, parecia um pedinte. Foi quando anunciou o assalto.
Portava um revolver velho, um 38 talvez. Balançava muito os braços enquanto falava, Parecia muito nervoso e alucinado. Talvez estivesse sob o efeito de drogas. Mas o mais impressionante eram os olhos. Eram pequenos e estavam vermelhos. Transmitiam uma maldade, um sadismo difícil de descrever.
Gritava o tempo todo. Pedia dinheiro, não só o que estava nas gavetas mas o que estava no cofre também.
O caixa estava apavorado. Era uma situação inusitada. Já havia ouvido e visto casos semelhantes, mas nunca se acha que vai acontecer, até que aconteça.
O assaltante continuava gritando. O vidro fumê e grosso do escritório, impedia que as pessoas de fora percebessem que estava acontecendo.
O caixa já estava abrindo o cofre, quando o cliente entrou no escritório. O bandido assustou-se com a repentina intromissão e disparou a arma. O cofre já estava aberto quando o projétil deflagrado atingiu a tranca da porta do cofre, que é de puro aço, ricocheteando e atingindo o braço esquerdo do meliante que, apavorado e com dor, sai em disparada, sem levar nada. No caminho bateu com a arma no rosto do fregues.
Correu para trás do posto e se embrenhou no mato. Com muita dor no braço, livrou-se da arma para fazer pressão no ferimento.
Correu por algumas horas no meio do mato, tropeçando e caindo várias vezes.
Alcançara uma vila próximo ao rio. Uma das casas estava com a luz acessa. Aproximou-se e os cães começaram a ladrar. A mulher olhou pelas frestas da janela e viu apenas um homem maltrapilho, sujo e com um pedaço de pano amarrado no braço esquerdo. Parecia ferido, pois segurava o braço contra o peito com a mão direita e uma expressão de dor.
- Ó de casa? Tem alguém aí? Eu estou com fome. Só quero um prato de comida.
A moça ficou olhando, mas pelo jeito ele não sairia dali.
- Eu sei que tem alguém em casa. Só quero um pouco de comida e vou embora.
Ela foi ate a cozinha e pegou o resto de comida que sobrou da janta, comida que ela ia dar aos cachorros no dia seguinte, fez um prato e foi até a porta.
Quando o meliante a viu na porta aberta, percebeu a silhueta de grávida. Devia faltar poucas semanas para o nascimento, devido ao tamanho da barriga.
Ela o chamou para pegar o prato. Ele se aproximou da porta e pegou o prato com o braço bom, sentou-se no degrau e apoiou o prato nos joelhos.
- Não se preocupe moça, não vou demorar.
- Como você se machucou? - perguntou ela.
Ele já tinha colocado três colheradas na boca, quando parou de mastigar. Seus olhos começaram a se injetar de vermelho, a respiração ficou rápida e descompassada. O bandido atirou o prato longe e sem o menor aviso, deu um potente soco na barriga da gestante. Essa, por sua vez, caiu de costas gritando de dor e sentindo contrações.
- Vou te ensinar a não se meter na vida dos outros.
A mulher começou a entrar em trabalho de parto. Tremia e sua barriga mexia muito. Depois de alguns momentos de sofrimento e dor a criança nascera, ou melhor foi arrancada pelo bandido, que até o momento assistia a tudo calmamente, pegou a criança ainda suja, cortou o cordão com uma faca e levou-a até os fundos da casa e atirou-o no rio.
Ficou observando aquele feto se debatendo na água e o rio seguindo seu curso levando o pequeno rebento embora. Ele olhava tudo extasiado dando gargalhadas. Ria muito e sem parar, parecia que estava assistindo a um programa de comédia.

A moça finalmente abre os olhos e percebe que não foi um pesadelo. Foi real e bem real. Está acontecendo agora. Aquele maníaco ainda estava lá, na sua casa e rindo.
Tirando forças não se sabe de onde, movida pelo ódio e pela vingança, ela tenta se levantar. Escorrega no sangue e na água que está a sua volta e tenta novamente. Segue para os fundos, escorando nas paredes e nos móveis. Vai até a área externa, onde o marido guarda as ferramentas.
O maníaco alucinado ainda ria quando sente uma forte dor no braço direito e o vê caindo no chão. Tenta se virar quando se desequilibra e cai sentado, ele para um lado e sua perna esquerda para o outro. Sem entender, vê a mulher próxima a ele, agora com a barriga murcha e um penado na mão. Mal teve tempo de falar, quando ela desferiu outro golpe, agora no lado esquerdo do tronco, na altura do cotovelo. Como ele estava com o braço dobrado e a força do impacto foi tão grande, que cortou o o braço em três partes e ainda enterrou na costela. A ferramenta ficou presa no tronco da vítima.
Não satisfeita com o resultado, a mulher voltou para casa e de lá saiu com uma foice na mão para acabar o serviço.
Vizinhos viram a moça vagando pela rua de noite, com as roupas ensanguentadas e chamaram socorro.
Na ambulância, ela dizia palavras sem nexo. A única coisa que parecia compreensível era:
meu bebê foi embora, meu bebê foi embora”

Jack Sawyer

Comentários

Anônimo disse…
Olá Jack, olha o texto reflete uma realidade que assistimos hoje pela televisão, o pior que essascoisas acontece na vida real, triste, parabéns pela criatividade, cheguei ao seublog pela indicação da nossa querida amiga Sandra, ja tinho lido alguma coisa sua mas foi no blog o lado negro, amigo paz seja contigo ..!!!

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