Roda gigante

Dia de grande movimento no parque de diversões, afinal era período de férias. A fila para a roda gigante era enorme, mas era o brinquedo mais comentado. Paulo estava quase no final da fila, ouvira tantos comentários que resolveu enfrentar a fila. À sua frente dois rapazes comentavam:
- Aí. Gostei tanto que vou de novo.
- É isso aí cara. E quando ele dá aquela volta lá em cima, depois dá aquela paradinha e o carrinho fica balançando no vazio?
- Huuuuuuu. Dá até um frio na barriga.
- Nunca aconteceu nenhum acidente? – Paulo resolveu participar da conversa.
- Há um ano dois adolescentes caíram lá do alto, num desses balanços que o carrinho dá.
- É, mais é animal essa balançada. – concordou o outro.
Esses dois são meio birutas, pensou Paulo. Estranhamente Paulo começou a perceber que todo mundo que passava por ele, o olhava diferente, fazendo caras esquisitas.
- Mas que coisa. – pensou Paulo – eu nunca estive aqui, porque tá todo mundo me olhando desse jeito.
Estando próximo da roda gigante, Paulo começa a contar as pessoas e os lugares disponíveis e dá um sorriso, ele pegaria o último carrinho. Aquele montão de gente atrás dele teria que esperar a próxima viagem.
Finalmente chega a vez dele, mas antes dele subir na plataforma, um homem muito educado pede licença para atravessar para o outro lado da fila, como ele era o último não se importou, só teve que se espremer contra a grande pra dar passagem ao homem que vinha com um monte de balões na mão. A propósito, a figura era meio inusitada, trajava um fraque preto, com cartola e sapatos também pretos e um par de luvas brancas. O homem atravessou e agradeceu com um sorriso e um aceno da cartola.
Quando Paulo foi entrar no carrinho, percebeu que pegou o número 13, fez uma careta. Não era supersticioso, mas também não era bom facilitar. Paulo já ia baixar a trava de segurança quando um dos rapazes o chamou.
- Hei rapaz! – disse o rapaz mais alto de cabelo espetado
- Vamos trocar de carrinho, esse aqui ta apertado, e como você é um só...
Paulo aceitou de bate e pronto.
- Hei! Dá um soco nessa trava que ela não encaixa direito. – gritou o mais baixo, de cabelos e olhos claros.
- Muito legal – pensou Paulo – apertado coisa nenhuma, tava com defeito na trava e eles me enganaram direitinho.
Paulo deu vários socos na trava, até sua mão ficar dolorida, bem a tempo pois a roda começou a girar.
Quando ela atingiu certa velocidade, o barulho começou a mudar e a posição da roda gigante também. Começou a girar em diagonal. De repente um barulho muito forte. Todos começaram a gritar e Paulo de olhos fechados, abre pela primeira depois que a roda começou a girar em diagonal. Olha pra frente e não vê os garotos. A trava do carrinho está solta e o carrinho pendurado.
Rapidamente a roda começa a perder a velocidade, até parar totalmente e as pessoas saírem desesperadas.
Paulo ainda em pânico permanece no carrinho com as mãos grudadas com tanta força nas laterais, que os nós dos dedos estavam brancos.
Um funcionário do parque veio até ele para ajudar a tirá-lo, pois teriam que interditar o brinquedo.
- Vamos filho, desça daí.
- Os garotos, os gatoros, os garotos, os garotos, os garo.. – balbuciava Paulo.
- Desce daí, só falta você.
- Mas e os garotos?
- Que garotos?
- Os que estavam no carrinho da frente, eles trocaram de lugar comigo.
- Olha, não tinha ninguém ali e se tivesse teria sido lançado longe.
- Havia dois garotos ali. Um alto com cabelo espetado e outro mais baixo com cabelos e olhos claros.
- Olha filho, como é o seu nome?
- Paulo.
- Vem Paulo, vamos até a administração que pra gente identificar esses meninos. Eram seus amigos?
- Não, eu os conheci na fila, não sei nem o nome deles.
- Pois bem, venha comigo então.
Paulo sai devagar do carrinho, sem desgrudar os olhos do carrinho seguinte, solto da base justo na trava.
- Poderia ter sido eu. –fala baixinho.
Na sala da administração do parque era bem tecnológica com vários monitores. Pelo jeito todo o parque era monitorado por câmeras.
Havia um técnico trabalhando e uma das câmeras, a que cobria a roda gigante. Quando as imagens do vídeo são ampliadas, Paulo se vê na fila, mas nem sinal dos dois rapazes.
- Consegue identificar os meninos do qual você falou? – pergunta o funcionário.
- Não. Avance mais até a partida da roda gigante.
Paulo acompanha tudo, como um “Deja vu”. Assiste ao momento em que o homem dos balões vermelhos pede licença e começa ficar apavorado, onde estão aqueles dois?
Seu sangue gela quando chega o momento em ele senta no carrinho, olha para trás, sai, e entra no carrinho de trás, dando vários socos na trava de segurança. Mas aonde estão aqueles dois?
- Esse vídeo foi editado? – pergunta ele
-Não. – responde o funcionário – Apenas voltamos a fita. Se você não tivesse dado tanto soco naquela trava o seu também teria aberto, com o impacto do carrinho na sua frente.
Paulo vira as costas para os monitores e fica de frente para um mural. Olha arregalado para um recorte de jornal, já meio amarelo. Suas pernas ficam moles, parece que o chão sumiu.
No recorte tinha a foto dos dois rapazes, com uma pequena legenda:
“Trágico acidente no parque de diversões da cidade. Dois garotos Darlon, de 17 anos e Carlos, de 19 anos, foram lançados da roda gigante quando a trava de segurança do carrinho nº 13 se soltou da haste principal, lançando os dois a 100 metros do aparelho por ação da força centrífuga. Infelizmente a queda foi fatal e os dois garotos não resistiram a grande quantidade de fraturas pelo corpo, vindo a falecer a caminho do hospital. A polícia instaurou inquérito...”

Comentários

Everton disse…
Acho que deveria ter um final mais legal.....

Everton.C

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